terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Epifania sobre os prazeres sublimes

Hoje eu deitarei nua. Não quero sequer lençóis, não quero sequer um corpo sobre o meu.
Hoje vou pra cama completamente só e nua. A janela está completamente aberta, e posso sentir completamente a brisa suave de uma noite típica de verão.
Meu corpo está quente,mesmo nu.Justificável,se levado em conta que é uma noite de verão, e mesmo assim cismei em tomar duas ou quatro taças de um bom syrah chileno - uma garrafa e um corpo nu.
Deito e me entrego. Sinto todos os fios se arrepiarem, assim que a brisa entra pela janela e toca meu corpo. Ele já não é brasa.É frescor e alento.
Gosto de reconhecer o prazer em mim. Gosto como a alma se manifesta diante dos prazeres mais simples. Gosto de estar só e mesmo assim o sentir - isso me deixa um pouco mais auto suficiente - mas ainda assim,não me esqueço que talvez o bom vinho tenha potencializado certas sensações...
Resignada ao saber que ainda solitária preciso de certos artifícios para me experimentar, acendo um cigarro, e sorvo grande quantidade de fumaça. Fecho os olhos. Sinto o vapor percorrendo a minha língua, e o gosto de tabaco que fica nela quando eu o desprezo em tentativas frustradas de fazer pequenos círculos no ar.
Por mais contraditório que seja, respiro melhor agora.
Enquanto fumo, recostada na cama,degustando da brisa em meu corpo, me entrego a doces devaneios. Penso que é exatamente e somente em momentos de prazer sublime, que o corpo e a mente entram em algum tipo de consenso, e ambos finalmente se entregam.
E meu corpo nu esta ali, entregue à brisa e ao cigarro, enquanto minha mente (embriagada) se entrega ao desejo latente de se mudar para a Espanha.
- Não existiria nada mais belo e sublime do que viver a vida em Barcelona,degustando de um bom syrah chileno,sorvendo o sabor de alguns cigarros e experimentando o próprio corpo nu.
Assim que conclui tudo o que desejava da vida, me senti só - tenho dessas reações logo após me tornar um pouco mais auto suficiente.
Ao pensar na solidão, assim que o cigarro me abandona, me derramo sobre a cama e reconstruo minha epifania:
- Não existiria nada mais belo e sublime do que viver a vida em Barcelona, degustando de um bom syrah chileno,sorvendo o sabor de alguns cigarros,experimentando o próprio corpo nu ,entregue a uma cama sem lençóis,sobre um outro corpo, despido feito o meu.
Por uns instantes,me sinto completamente preenchida. Tudo me acalma e logo adormeço.
Acordo sem a brisa da noite de verão em minha janela. O sol me esvazia, e decido aguardar o entardecer para me embriagar novamente de duas ou quatro taças de vida - uma garrafa e outro corpo que se despe - para recriar todos os meus futuros passos, e acrescentar outros devaneios, na ilusão completa de que a vontade da busca pelo sentido... cessará.