terça-feira, 10 de setembro de 2013

Palavras e eu.

Minha alma só respira quando escrevo.
Meu alívio reside na ponta dos dedos.

-Não controlo o turbilhão.

Quando páro,lá estão meus rabiscos.
(completamente decifráveis)

Minhas palavras são feito lágrimas
que escorrem pelas mãos.

Minha tristeza reside num papel.

Mas por favor,não se comova.
Perceba que nada disso vive em mim.

Logo que sinto,
me desfaço.

Se esvai entre os dedos,
escorre no papel.

E morre.

sábado, 24 de agosto de 2013

Mais uma dose

Uma dose bastou.
Me despi.
Não quis prever o percurso que meu corpo faria,
ou o estrago que o ato me causaria.

Uma dose bastou.
Quando menos previ,
e quando menos pedi,
senti sua respiração ofegante dentro da minha boca.

Sua língua desvendaria o gozo a qualquer instante.

Já não podia calcular a altura do tombo,
e por fim mergulhei entre seus braços.

Extrapolei no desejo mais do que na bebida.

Assim como você, usei aquela dose como uma bela desculpa
-explicações para o óbvio.

E num gesto igualmente impetuoso, te despi.

Explorei toda parte sua - alcancei o velho propósito de te degustar
(mesmo sabendo do risco que corria de me apropriar do seu gosto)

Usei todas as partes do meu corpo.
Queria que todas elas gravassem na memória os sabores e cheiros que vinham de você.

Como uma personagem abandonada por sua própria consciência,
Gemi alto.
Desejei que seus ouvidos gravassem o timbre da minha voz
(para que não se esquecesse,mesmo "sóbrio")

Despretensiosamente.

Estive a beira da histeria, assim que adormeci ao seu lado.

Secretamente, rezei.

Pedi a Deus uma garrafa - outras doses ( de desculpas)
Se assim fosse necessário,
pra te ter mais uma vez.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Do que faz parte.

No meu quarto, habitam algumas mulheres.

Uma dorme,
outra lê,
e aquela geme.

São exatamente três mulheres a dividir a mesma cama.

Enquanto a do canto suspira,
a do meio imagina,
e a terceira sonha.


O difícil se dá, no momento em que o dia acorda.

Um só corpo para vestir - fato  que ainda mal desperta,
e já tem que com prontidão. decidir onde se guarda cada uma delas.

Por fim, assim decreta :

A que dorme,suspira em seus pulmões.

A que lê, imagina seus passos.

A que geme, sonha - exatamente ali dentro,

do seu coração.

Sobre o que é doce

A forma que eu me mostro,
E que de fato gosto,
Provavelmente não é a forma que mais me convém.

A ideia que apresento,
A trama que não me traz alento,
Mas que repito, vez ou outra,
Só pra ir mais além.

Nunca serei feita de tudo que precisa
Nunca serei a resposta pra qualquer prece,
Ou cura pra qualquer falta,
Só o  contrário de tudo que te mantêm.

Portanto, guarde  uma só nota,
Das anedotas contadas:
Tudo que sou te fará falta
(mesmo que o tudo seja tão contrário ao que procuras)
Só passo,
te marco,
mas jamais te faço refém.

Só pra ver se você volta,
E compre toda verdade (nunca imposta),
E acredite no que de fato importa:
Que eu sou sua,

e de mais ninguém.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Dazed and Confused

Não, eu não sou especialista em homens. Eu não sou um deles, tive poucos exemplares na essência, e jamais cogitei a hipótese de ser um.
Só admiro e observo.
E eu tento, juro que tento fisgar certos detalhes que extrapolam o senso comum. Além do futebol, além da admiração por bundas,peitos, além da busca incansável pela satisfação sexual, além dos carros,armas,tamanhos,quantidade...eu tento ir além.
Essência...se sou ou serei capaz de atingir o âmago da questão...no momento me foge...mas sou cercada por bons e distintos exemplares, e numa hora dessas, eu realmente gostaria de dar meu parecer.
Coincidentemente, escrevo escutando um som - coisa que sempre faço - e a primeira música  que toca é "Dazed and Confused" do Led. Han.... na tradução, atordoado e confuso, é como se fosse uma síntese de toda a minha percepção.
Assim como dita o som, o homem é demorado. Do homem emerge sons e notas demais, uma sensação literal de confusão - eles me causam isso.
Do pai ao amante, me escapa muitas vezes o que vem por trás. Acho que todos eles perdem muito tempo se escondendo atrás de todo esse senso comum. É mais fácil ser o pai, o dono, o pênis, o bêbado, o aventureiro, o sagaz, o másculo.O buraco (se posso ousar colocar a palavra, no meio de uma explanação que envolve a figura masculina), é muito mais embaixo.
Ei, incluo os gays nessa também. Eles mostram mais um pouquinho do buraco embaixo, mas essa essência, continua no mistério. Gays, assim como os héteros, precisam ser os donos de si mesmos, e ainda assim se escondem atrás de um pênis, de um dono, de um certo padrão comportamental aventureiro, sagaz.
Homens...
Se eu os entendesse,não escreveria sobre eles - os leria,simplesmente. Mas escrevo, porque de certa forma quero conclui-los, sabendo que nunca hei de chegar no x da questão.
(E a música continua tocando...sem ordem alguma)
Se eu os compreendesse, conquistaria todos eles. Quantas vezes dei o meu melhor, investi pesado em estratégias e em teorias que os fizessem meus – mas sempre me rendo, sempre me entrego.
...Assumo meus vícios.
E gosto do cheiro deles. Gosto da forma como que necessariamente eles possuem poucos artifícios pra serem de fato belos - se você dorme, acorda exatamente com o mesmo homem (talvez ainda melhor, em meio ao embaraço dos cabelos). Os caras são naturalmente bonitos, naturalmente toscos.
Eles peidam, arrotam e mesmo assim são interessantes, apaixonantes. A cueca aparece sempre de forma tão despretensiosamente estratégica, e a barba por fazer causa o efeito de uma saia curta na mulher.
Barriga estufada,falta de bunda, pêlos em lugares desnecessários, tudo ganha contexto e razão. Sou fã da imperfeição idiota e invejável que eles possuem.
Fugindo de tudo que é físico, os caras ainda vencem. Esse lance do pensamento mais racional, mais matemático e objetivo, me dá uma sensação de que nunca poderei alcançá-los.
O homem, ainda não querendo ser... é homem.


Eu gosto dos caras.
E gosto, e assumo isso com um certo pesar. Se eu for realista, as experiências ruins que eles me proporcionaram, é praticamente desproporcional às boas.
É bem maior.

Ainda não faço idéia (e se eu faço é ínfima) de quê eles de fato são feitos.
Por enquanto só atordoados e confusos – e os aceito e desejo,mesmo assim.

“Been dazed and confused for so long, it's not true
Wanted a woman, never bargained for you
Lots of people talking, few of them know
Soul of a woman was created below

You hurt and abuse, telling all of your lies
Run around sweet baby, Lord, how they hypnotize
Sweet little baby, I don't know where you've been
Gonna love you, baby, here I come again

Every day I work so hard, bringing home my hard earned pay
Try to love you, baby, but you push me away
Don't know where you're going, only know just where you've been
Sweet little baby, I want you again”


quinta-feira, 4 de julho de 2013

Daqui de dentro.

Percebi seus rastros pelos corredores.

Vi suas digitais em cada canto (até naqueles copos de requeijão em que só você bebia café)
Alguns fios de cabelo preto
no ralo,
no calo,
nos armários.

Em tudo o vazio
já era alguma coisa.

Porque sua ausência sempre foi só física.
O resto todo tava ali.

E eu fiz questão de não parar,
e reparar,
porque demorei muito pra reeducar meu cérebro pra isso.

Precisava tornar menos tangível todo o sentimento
que sentia,
toda vez que passava
por esses cantos,
esses copos,
esses ralos,

Tantos calos.

E sim, varri toda a casa
até que esse cabelo,
e mãos,
e passos...sumissem.

Sua ausência ganhou mais volume.

Mas ainda assim, não descobri o que faço comigo.
Ainda assim não fui capaz de abrir as portas,
e deixar você sair,


daqui de dentro.

Pra falar de amor.

Quando meu pai viaja, minha mãe se deita do lado que ele dorme.

Pra mim, isso é amor.

E eles se despedem sempre com um sorriso
- São cúmplices até mesmo nesses pequenos detalhes.

E quando um fala, o outro se cala.
Parece que eles vivem entrando em um tipo de consenso silencioso.

É desse tipo de amor que eu nasci.

Se não fosse a dose de erros,
Esses que todo mortal adquire assim que nasce,
E Deus tivesse somente me presenteado
Com esse amor do qual fui fruto...

...Eu seria um tipo de estrela  (uma constelação,talvez)
Ou feita de qualquer outra coisa,
Impossível de se alcançar.

Quando a falta,
Transforma qualquer rastro em presença.
E cada despedida,
Num tipo de felicidade compartilhada
- daqueles que sabem que ainda assim se pertencem.

E o respeito,
A Partilha,
Que moram no silêncio.

Feito de qualquer coisa,
Quase impossível de se alcançar...

Pra mim...
Só pode ser amor.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Nº 5

Vez ou outra visito meu passado.
Tenho nele guardado três ou quatro coisas,
que eu realmente quis que perdurasse,
e que acompanhasse meus passos.

Mas eles só se eternizaram na minha memória
E marcaram meu coração,
e marca, infinitas vezes para que não me esqueça,
Para que nunca cicatrize.



Minha história parece ter medo que eu a esqueça.



E acabo por me afugentar, vez ou outra, no que passou
- preciso me ferir de vez em quando

São as três ou quatro coisas
que sempre irão me amedrontar,
e me salvar,
e me acalentar,
e me impulsionar a sempre ter fé
e a sempre buscar

Pela quinta coisa.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Instante.

Eu vou abandonar meu corpo

Preciso de um pouco de ar.

Preciso entender sobre tudo o que é tão maior
Tão maior do que ele pode expressar.


Quero abandonar a minha realidade, nem que seja por alguns instantes

Preciso de um pouco de ar!

Quero ir na direção dos meus sonhos - esses que ainda teimo em sonhar.
Quero ir em direção contrária a tudo que habito.

E nesses instantes, eu finalmente encontraria você?
Será que finalmente, longe daqui, poderíamos simplesmente ser
E simplesmente falar,
Sobre toda a verdade e toda vontade,
Aprisionada em nossos corpos - nossos medos...

E de que cenário seria feito?

Preciso de ar....

Me respire, me inspire.

Abandone -se e vem comigo....

Por um instante.


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Pequena homenagem à nossa amizade

Ele sente a chuva de uma forma que ninguém sente - ele a entende e aceita como parte de algo maior. (Ele sabe desvendar esses pequenos detalhes).Quando chega, se permite fazer fazer certo barulho - prefere que o notem (passar desapercebido nunca seria uma opção). 
Ele sente a chuva,porque de alguma forma,se percebe nela. É dessas pessoas que causam transtornos, que mudam uma rotina, que modificam um dia. É Aquele de quem não se escapa, se aceita e pronto,porque é praticamente inquestionável a falta que faria e o prejuízo que causa. E assim como a chuva, faz florescer. Brota qualquer coisa boa no coração de quem o percebe...

E o recebe.

terça-feira, 26 de março de 2013

Com golpes de pincel


Sou obra de mim mesma. Preencho o vazio alheio, na tentativa de me somar - nunca disse que fui altruísta.
Nunca disse, mas me percebo sendo, porque na verdade, preencho o vazio alheio enquanto me esvazio.
Presente solitário.
Mas não, isso não me faz altruísta. Se na verdade o altruísmo vai além da ação, vem do sentimento – e isso não mora em mim.
Quero algo em troca. Quero no mínimo, reconhecimento.
O que também não me faz egoísta ...por mais que me alimente o ego, ainda assim me  regozijo com o que o outro recebe, com o que no outro somo, mesmo que por aqui...tudo permaneça igual.
Tudo (por ora) vazio.
É como se (por um instante) me sugassem a essência. Tirassem-me de mim o que me é tão precioso -  amor próprio se esvai as vezes, em tentativas  estúpidas.
- Eu te preencho e não moro em mim.
Mas se desistisse como seria?
O que haveria de receber, se não tentar – mesmo que o ato de tentar quase sempre resulte na indiferença e no esquecimento do outro.
Senão, tentar.
O vazio ,por mais vazio, nunca é. Uma estúpida esperança mora nele. Uma luzinha qualquer, uma coragem pequena... ainda habita.
Ainda assim habita.
E a troca talvez more na sorte. Na sorte do encontro certo. A sorte de um outro, que estúpido como eu, queira preencher outro corpo, e seu ego, e a sua pequena coragem, e a sua luzinha qualquer – no mesmo exato momento.
O erro é de quem não retribui? É de quem doa? Ou o erro mora no desencontro dos interesses? E é erro?
E se for erro mora ai – no desencontro dos interesses.
Todos tentam sim, tentam porque é intrínseco, fisiológico, natural - somos munidos de certas coragens e luzes.
Todos usufruem,
e compartilham,
e são solitários (como certos presentes)
“A arte do encontro” – porque ainda assim reconheço o belo. Por mais raro que seja – existe e surge em momentos sublimes, onde um busca o outro.
O momento onde o interesse mora no outro,
e é recíproco,
e é real.
Simplesmente: presente.
Tudo (por ora) cheio, suficiente.
A solidão que nos abandona, tomada por uma luz intensa que parece indicar um caminho que nos leva ao coração de outrem .
Feito ponte.
Feito uma ponte, onde ao mesmo tempo que vai – volta. E munidos de (agora) uma coragem tão grande, de uma luz (que já não é uma qualquer), percorremos sem medo e sem vazio, e trocamos, e nos presenteamos...e retribuímos.
Presente feito troca.
- Eu te preencho e moro na amplitude de mim mesma.

Afinal, sou obra de mim mesma!
Construída por encontros destinados a me somar, a me subtrair, a me preencher e a me esvaziar.
Destinada a ser e a pertencer
Destinada a não ser e a não pertencer.
E ainda assim buscar, esperar, reconhecer.

Porque o vazio, por mais vazio...nunca é.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Shallow

Não me subestime.
Passei por tantas vezes por essas ruas, que hoje já ligo no automático ao atravessar a avenida.
Nem paro.
Faria a mesma rota de olhos fechados, se não chovesse tanto lá fora.
Isso não me dói.

Mas o que me perturba é ver você ainda andando de olhos fechados por lugares onde nunca passou .
São tantos anos no escuro que nem percebeu. Por entre essas ruas tortas, haviam árvores, haviam casas.
Poesia nas paredes, no ar.
Mas não. Abrir os olhos depois de tanto tempo, exige mais do que você pode oferecer.

Vai, vá em frente, engula o mundo.
Passe por ele,como se ele só fosse parte de um trajeto banal.

Eu escolho ver (até mesmo o que vejo e percebo,tão naturalmente)
E tropeçar,ainda que de olhos abertos, o que me parece ainda mais fácil,mas porque não...
estarei atenta e disposta - mesmo assim,
A não passar sem enxergar,
A reconhecer poesias nas paredes, no ar.
(Mas não me subestime!)
Cada vez que passo,encontro algo pra levar.
Vi lá no alto daquelas árvores, que cobriam aquelas casas...motivos pra morar.
Pra ficar.

(Serei contraditória ao meu início).

Me subestime sim, me subestime da mesma forma que caminha.
Que eu vou reparar,mesmo se não chover.
Vou usar as marchas, os pedais.

E ainda assim,e também: engolir o mundo.

Vou mastigá-lo usando os dentes
Sentindo o doce na ponta da língua,
O amargo no fim da garganta.

Os sabores e dessabores das minhas rotinas e daquelas ruas tortas.

Ouvir,
Sentir,
Olhar,
Tocar,
Cheirar,
Errar,
Continuar,

Padecer.

Perceber a vida e me fazer perceber.
Compartilhar com quem para e mora,
Com quem olha e adora,
A mesma casa, a mesma árvore..naquela mesma velha esquina.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Epifania sobre os prazeres sublimes

Hoje eu deitarei nua. Não quero sequer lençóis, não quero sequer um corpo sobre o meu.
Hoje vou pra cama completamente só e nua. A janela está completamente aberta, e posso sentir completamente a brisa suave de uma noite típica de verão.
Meu corpo está quente,mesmo nu.Justificável,se levado em conta que é uma noite de verão, e mesmo assim cismei em tomar duas ou quatro taças de um bom syrah chileno - uma garrafa e um corpo nu.
Deito e me entrego. Sinto todos os fios se arrepiarem, assim que a brisa entra pela janela e toca meu corpo. Ele já não é brasa.É frescor e alento.
Gosto de reconhecer o prazer em mim. Gosto como a alma se manifesta diante dos prazeres mais simples. Gosto de estar só e mesmo assim o sentir - isso me deixa um pouco mais auto suficiente - mas ainda assim,não me esqueço que talvez o bom vinho tenha potencializado certas sensações...
Resignada ao saber que ainda solitária preciso de certos artifícios para me experimentar, acendo um cigarro, e sorvo grande quantidade de fumaça. Fecho os olhos. Sinto o vapor percorrendo a minha língua, e o gosto de tabaco que fica nela quando eu o desprezo em tentativas frustradas de fazer pequenos círculos no ar.
Por mais contraditório que seja, respiro melhor agora.
Enquanto fumo, recostada na cama,degustando da brisa em meu corpo, me entrego a doces devaneios. Penso que é exatamente e somente em momentos de prazer sublime, que o corpo e a mente entram em algum tipo de consenso, e ambos finalmente se entregam.
E meu corpo nu esta ali, entregue à brisa e ao cigarro, enquanto minha mente (embriagada) se entrega ao desejo latente de se mudar para a Espanha.
- Não existiria nada mais belo e sublime do que viver a vida em Barcelona,degustando de um bom syrah chileno,sorvendo o sabor de alguns cigarros e experimentando o próprio corpo nu.
Assim que conclui tudo o que desejava da vida, me senti só - tenho dessas reações logo após me tornar um pouco mais auto suficiente.
Ao pensar na solidão, assim que o cigarro me abandona, me derramo sobre a cama e reconstruo minha epifania:
- Não existiria nada mais belo e sublime do que viver a vida em Barcelona, degustando de um bom syrah chileno,sorvendo o sabor de alguns cigarros,experimentando o próprio corpo nu ,entregue a uma cama sem lençóis,sobre um outro corpo, despido feito o meu.
Por uns instantes,me sinto completamente preenchida. Tudo me acalma e logo adormeço.
Acordo sem a brisa da noite de verão em minha janela. O sol me esvazia, e decido aguardar o entardecer para me embriagar novamente de duas ou quatro taças de vida - uma garrafa e outro corpo que se despe - para recriar todos os meus futuros passos, e acrescentar outros devaneios, na ilusão completa de que a vontade da busca pelo sentido... cessará.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Sinergia


A gente dorme pensando que quando a gente acordar,talvez,alguma coisa mude.
A gente não perde a esperança que daqui a algumas horas, tudo se torne completamente diferente.
Mas a vida tem dessas de deixar as coisas exatamente como estão, mesmo que a gente precise que elas mudem radicalmente.
Talvez a vida bote a gente pra dormir, pra que a gente , e não o mundo, acorde diferente.
Mesmo que seja quase imperceptível, no momento em que se acorda, alguma coisa renova.
Tolos somos nós, de acharmos que o que melhora é só o cansaço.
Sono vem pra entorpecer o cérebro da gente. Tira essa angústia de ter que se viver pensando sempre, bota o  corpo pra respirar um pouco , bota a vida pra ser mais suave.
Aí a gente acorda um pouco melhor pra enfrentar mais um turbilhão de viver.
Quantas vezes a gente dorme, porque a gente simplesmente quer parar de viver um pouco, de ver um pouco, de suportar um pouco. A gente dorme pra esquecer e acorda porque acha que de alguma forma, isso faz com que tudo mude.
Muda não.
Tudo vai estar lá, da forma que se deixou.A bagunça do quarto, a bagunça da vida, do mundo.
Há uma ínfima possibilidade que talvez alguém passe e tire alguma coisa do lugar, ou bote outra coisa ali, mas só acrescenta ou tira. 
Muda não.
A esperança de mudança tem que morar no nosso sono, e acordar junto com a gente. Sabendo que  tudo pode tá igual, mas que aquela sensação de se espreguiçar e levantar pra viver mais algumas horas do dia, faz toda diferença.
E simplesmente faz. Assim que seu cérebro se recompõe e te devolve seus sentidos até então adormecidos, desperta neles novas possibilidades. 
Ele não apaga as últimas horas, mas possibilita energia para as próximas.
E é o que faz as coisas se transformarem.
E é isso aí. 
É só a gente mesmo pra transformar as próximas horas em algo completamente diferente.
Portanto, simplesmente acorde. 
O mundo não vai parar de girar . Ele não gira em torno de você.
Movimente-se o mundo.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Sonho,sangue e América do Sul

Deus me criou pra ser jovem e, desde que me conheço por gente, venho cumprindo o papel em tempo integral.

E não foi por falta de me mandarem crescer, e não será por falta de mandarem (mandarei todos a merda como sempre mandei.)

Prefiro uma vida errante do que o tédio.
Prefiro transparecer imaturidade do que previsibilidade.
Na bolsa prefiro levar moedas, um fone 
de ouvido, duas fichas de churrasquinho da esquina e um óculos escuros, do que andar com aquele contra-cheque gordo,numa bolsa cheia de parafernalhas que nunca irei usar.
Prefiro usar tudo, do que morrer cercada de bens que nunca me foram tão bons assim.
Aceito ser profana no lugar de ovelha.
Troco 7 salários numa viagem pra Bahia de 7 dias.
Conto os porres como contos de uma vida vivida;
Os carnavais ainda me apetecem mais do que as formalidades.
Ao invés de um, ainda amo em bandos
Madrugadas ainda me são aproveitáveis
Ainda faço planos improváveis.
Me arrasto por lugares detestáveis
Experimento coisas que não me acrescentam em absolutamente nada
Experimento gente sem padrão e sem medida.

Manda tudo! Não sigo a risca!

Quero descer ladeira, tropeçar em esquinas
Exagerar no sal, extrapolar na dose,
Curar a dor com som no talo

Fazer errado, amar errado, andar errado.

Tudo pra ver se não se cresce nunca,
Tudo pra continuar mandando todos eles a merda,
Tudo pra não desperdiçar meus sonhos,
Tudo que não morre nunca.

Deus me criou pra ser jovem e, desde que me conheço por gente, venho cumprindo o papel em tempo integral.

E não foi por falta do meu corpo pedir pra parar.

Foi por excesso de alma a transbordar.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Fugaz

Me perguntaram se eu tenho medo de ficar velha.
Eu tenho medo é de não ficar.
E nessa angústia,talvez more a resposta pra toda a minha euforia e ansiedade.
Eu quero muito ser velha.
Mas no benefício da dúvida, prefiro ficar com o hoje - e fazer dele tudo o que eu tenho.

Gosto quando as pessoas me descrevem como existencialista, imediatista, afobada.
Gosto do medo que eu desperto nos homens quando eu imponho as minhas vontades sem o mínimo pudor.
Eu curto mesmo é o escracho.

Eu desejo a velhice, mas a quero assim que explorar toda minha juventude fugaz.
E talvez ela dure algumas horas (talvez nem isso)
Portanto,e de prontidão, assumo os riscos de extrapolar.
Assumo as consequências de um amanhã cheio de vacilos - assumo sem me arrepender de nenhum deles.

Assumo o gosto pelo novo e a vontade do velho.
Quisera eu conhecer tudo isso nos próximos segundos.

No benefício da dúvida, escrevo: No mínimo , meu caro, eu vivo.

Lamentos

O que falta no mundo é gente disposta.
Falta o tipo de gente que encara, que paga pra ver.
Que deseja e realiza,
Que fala abertamente até sobre aquilo que não convêm,
Que corre ,se aventura, não se acomoda.
Tá faltando gente que se joga!
Que olha lá pra frente, enxerga um longo caminho, e ainda tem vontade de ir além.
Não vejo coragem, não vejo atitude...só vejo desdém.
Nesse mundo só tá sobrando é desinteresse e gente desinteressante.
(e eu não vou me adaptar).