quinta-feira, 14 de março de 2013

Shallow

Não me subestime.
Passei por tantas vezes por essas ruas, que hoje já ligo no automático ao atravessar a avenida.
Nem paro.
Faria a mesma rota de olhos fechados, se não chovesse tanto lá fora.
Isso não me dói.

Mas o que me perturba é ver você ainda andando de olhos fechados por lugares onde nunca passou .
São tantos anos no escuro que nem percebeu. Por entre essas ruas tortas, haviam árvores, haviam casas.
Poesia nas paredes, no ar.
Mas não. Abrir os olhos depois de tanto tempo, exige mais do que você pode oferecer.

Vai, vá em frente, engula o mundo.
Passe por ele,como se ele só fosse parte de um trajeto banal.

Eu escolho ver (até mesmo o que vejo e percebo,tão naturalmente)
E tropeçar,ainda que de olhos abertos, o que me parece ainda mais fácil,mas porque não...
estarei atenta e disposta - mesmo assim,
A não passar sem enxergar,
A reconhecer poesias nas paredes, no ar.
(Mas não me subestime!)
Cada vez que passo,encontro algo pra levar.
Vi lá no alto daquelas árvores, que cobriam aquelas casas...motivos pra morar.
Pra ficar.

(Serei contraditória ao meu início).

Me subestime sim, me subestime da mesma forma que caminha.
Que eu vou reparar,mesmo se não chover.
Vou usar as marchas, os pedais.

E ainda assim,e também: engolir o mundo.

Vou mastigá-lo usando os dentes
Sentindo o doce na ponta da língua,
O amargo no fim da garganta.

Os sabores e dessabores das minhas rotinas e daquelas ruas tortas.

Ouvir,
Sentir,
Olhar,
Tocar,
Cheirar,
Errar,
Continuar,

Padecer.

Perceber a vida e me fazer perceber.
Compartilhar com quem para e mora,
Com quem olha e adora,
A mesma casa, a mesma árvore..naquela mesma velha esquina.

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