segunda-feira, 30 de março de 2015

A minha concepção do amor (readaptação de uma antiga idéia)

Convidaria aqueles com que de qualquer forma me envolvo
a formar um grande círculo.
E no meio desse grande círculo:eu
Travestida pelos esteriótipos que carrego na pele,
mal acompanhada pelos meus vícios.
Compartilhando tudo,
em completo silêncio.
Num primeiro (e talvez único) olhar: o reconhecimento.
Ali a figura representada sob o previsível,
em consonância com todas as máscaras que criei.
- imagem construída e moldada e aceita por aqueles que rodeiam.
.
Respiro.
Começo.
Acendo o cigarro e fecho os olhos .
Trago.
Sorvo.
Apago.
Encho minha taça de vinho e fecho os olhos.
Trago
Sorvo
Derramo.
Pauso.
Olho.
Percebo: estranhamento.
Ouço passos que se afastam,
sinto familiaridade nas vozes que me questionam.
Respiro.
Continuo.
Vidrada, me olho no espelho.
Esqueço o medo que me ronda,
Esqueço as imagens que me constroem.
Só olho pra mim - por mim.
Acaricio meu rosto
com apreço de quem ama,
- ainda me reconheço.
Expiro alívio.
Com um lenço,removo a pintura dos olhos.
Desmancho a pintura da pele.
Depois tiro os brincos,
me desfaço dos anéis,
Solto os cabelos.
- ainda me vejo.
Submersa, demoro a perceber
Que o que era círculo, já não é.
- foi quebrado.
Há os que permanecem,
há os que se afastaram,
e as vozes que sentia se calaram e partiram.
Interrompo: por medo,
me encolho, envergonhada até reconhecer meus alicerces- ainda presentes.
Respiro.
Levanto.
Prossigo.
Me desfaço das minhas roupas,
dos meus sapatos.
Me desfaço dos meus constrangimentos.
Me desfaço e os transmito .
Reconheço: Embaraço .
Alguns se viram de costas.
Alguns me abandonam
E os que ficam já não me olham.
-Ninguém me toca -
Resolvo encerrar o silêncio.
Nua, me desloco.
Não sou mais centro.
Não sou mais medo.
Procuro as mãos que me abandonam,
Toco rostos que não me olham.
E quando o toque já não me basta
as palavras tomam frente,
desenfreadas,
desmedidas,
- despidas, feito eu.
Palavras direcionadas aos que permanecem.
Respiro: ofegante.
Encontro: alento.
Retomo: meu eixo.
- E giro -
Giro em torno do meu precioso eixo.
Giro em mim - por mim.
Giro por muito tempo.
Giro e isso me esgota
volto,
me percebo só.
Não há mais ninguém ao meu redor.
As minhas palavras as tomaram de mim.
E agora sou só,
E sou inteira
As minhas palavras me tomaram o medo.
Por um instante: Silêncio
Me levanto,
Me despeço.
E já não carrego mais nada além do meu próprio peso.
No outro instante: Barulho
Não há luz naquele vazio,
mas sinto a presença que se aproxima.
- Um homem -
não o reconheço.
Ele silencia os passos quando chega perto.
Para e me observa.
Paro e o observo.
Ele está de frente pra mim,
e me olha nos olhos.
e me toca.
Demoro , mas noto
Ele está nu,
E não me traz nada (além do seu próprio peso)
Nos abraçamos
- como velhos conhecidos.
Estamos inteiros, entregues.
Abandonamos o vazio.
De repente, não sou mais só,
Carrego agora o que preciso.
Respiro
E isso finalmente me basta.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Reflexão sobre o seu e o meu universo.

Acho importante a pessoa que curte escrever se aventurar por diversos tipos de linguagens e de temas – estabelecer novas conexões, sinapses.
- Acho lindo.
Eu, que gosto de escrever, tento me dedicar mais a esse exercício, abandonando esse meu linguajar dramático, de desabafo mesmo – que me é muito característico, pra de repente escrever sobre outras pessoas reais, ou sobre pessoas surreais, ou pessoas que sei lá, moram em mim e que não sejam tão...melodramáticas.
Juro que tento.
Mas escrever acaba por ser uma extensão do sentimento que mora em mim. E, quando dou por mim, mesmo botando o outro no meio, de repente sou eu, destrinchando a minha vida e toda aquela angústia que gira ao redor dela.
Admiro quem se atém as coisas externas. Admiro mais ainda aquele que consegue escrever, lindamente sendo completamente imparcial.
Admiro, mas isso não é pra mim. Talvez as minhas funções cognitivas relativas à escrita sejam limitadas. Sabe-se lá.
No meio da primeira frase o coração se intromete e pronto.
Traçando uma linha cronológica, percebo claramente o quanto essa linha emocional ultrapassa os papéis e delimita totalmente todos os caminhos que tracei ,todas as pessoas que me dei, todas as escolhas que por fim nunca escolhi – sempre me escolheram.

[Esses parágrafos surgiram de uma reflexão que ,como todas as outras se não for feita no papel, se perde. Surgiram de um questionamento sobre o porquê de nunca experimentar escrever sobre política e assuntos gerais que dizem respeito a um contexto bem maior do que meu próprio umbigo.
Funções cognitivas ou pequenez humana. De qualquer forma ,acabo me explicando: Ainda tô tentando entender meu próprio universo pra ver se dou um jeito de me encaixar nesse aí tão maior e tão mais complexo.]

- Coração sobrecarrega.

quarta-feira, 18 de março de 2015

- Contrários -

Mas o que mais temia era ser idiota.
Podia ser considerada qualquer outra coisa.
Idiota nunca.
Era por isso que vivia calada. Tinha gente que dizia que era timidez. Ela achava melhor. As vezes, se autodenominava tímida só pra não acabar dizendo qualquer imbecilidade. E sim, de alguma forma podia ser de timidez o seu silêncio, porque de fato morria de vergonha de errar.
-Não era inteligência que lhe faltava. Temia ser idiota por inseguranças -
Devia ser algum trauma de infância. Alguma vez, fatalmente, foi idiota na vida. Foi idiota e alguém descobriu . Alguém descobriu e apontou. Pronto. Bastou pra que o silêncio se instaurasse.
Fico imaginando o som ensurdecedor dentro dela .
Fico imaginando a dor.

Enquanto isso há aquele que não abre mão de ser idiota.
Não pode ser considerado nada
Além de um completo idiota.
E por isso que nunca calava a boca. Tinha gente que dizia que era porque era um cara culto. Ele achava melhor. As vezes, se autodenominava culto , só pra acabar dizendo qualquer imbecilidade. E sim, de alguma forma podia ser feito de sabedoria o seu falatório, porque de fato o que sabia fazer era falar.
-Era inteligência que lhe faltava. Gostava de ser idiota por inseguranças -
Devia ser algum trauma de infância. Alguma vez, fatalmente, foi humano na vida. Foi humano e alguém descobriu. Alguém descobriu e apontou. Pronto, bastou pra que o barulho se instaurasse.
Fico imaginando o silêncio ensurdecedor  dentro dele.

Fico imaginando a dor.

Melancolia


De repente, todos os outros 27 não fizeram sentido. Me questiono em qual desses anos eu decidi ser quem eu era e fazer o que eu fazia.
De repente, já não sou quem eu era.
De repente sinto uma vontade de ser tudo justamente ao contrário do que sempre fui e fazer tudo ao contrário do que sempre fiz ao mesmo tempo que me vem uma vontade enlouquecida de não ser absolutamente nada, de não fazer absolutamente nada.
Tudo e nada. Tudo e nada.
Cansaço .
Cansaço de, de repente ter que recomeçar a vida aos 28 e me reinventar, sem saber se ainda me resta proveito do que já fui ou do que já fiz.
Sinto saudades de não ser e não saber , e ainda assim ser genuinamente,
enlouquecidamente
feliz.