A melhor providência a se tomar em tempos de reclusão,é
tomar doses diárias de anestesia geral.
Contudo que ainda pense em si mesmo, é uma ótima estratégia
no exercício de sublimar a vida.
A proposta não podia ser mais feliz. Propor um alienamento
total,uma falta de consciência da vida que o cerca, traz bem estar quase
instantâneo a aqueles que se perderam,que se separaram, que vagam por aí sem
direção.
Surge então o interesse em saber – por onde começar?
"Anestesiar-se a si próprio" exige mais do que qualquer outra
coisa,força de vontade e foco.Não poderá haver dúvidas do que quer pra si
mesmo.É ser só?É?Então prossiga.
Comece por pensar que hoje é o que você tem.Além disso,você
não tem mais nada.
Acorde decidido a ser racional por uns tempos.Engula as lágrimas – decida parar de
chorar...por uns tempos.
Pense na felicidade como uma escolha diária.Você acorda e
tem só dois caminhos:Serei Triste ou serei alegre?Por um dia tente com vontade
ser a segunda opção.
Após decisão total,é tempo de guardar o passado dentro de
uma caixa,no fundo do armário.Recordações não serão bem vindas por ora, e
você,como um novo ser racional, não se apega a mais nada.
Escondeu de si mesmo qualquer vestígio?Prossiga.
O seu tempo agora é dividido em trabalho e bem estar.Liste
uma infinidade de coisas que o ajudam a se sentir bem. A sua casa não será seu
templo,será por uns tempos somente o lugar que você dorme e come (Tente se aventurar
por outras bandas).
Relembrando sempre que agora você é um ser munido da razão,
evite sentimentalismos.Não procure coisas,filmes,ambientes e ou pessoas que
instigam sua insegurança,que despertam sensações impulsivas e românticas. Relacione—se
a coisas,filmes ,ambientes e ou pessoas que estejam na mesma freqüência que
você e que o estimule a não pensar.
Adormeça o hipotálamo.
Conduza seus pensamentos ao nível de egocentrismo “blaster”.Saiu
do trabalho,arrume coisas agradáveis a você.Eleve a condição de ser fútil ao
indispensável.Investimentos temporários e materiais provocam a sensação de
saciedade no organismo de quem não tem mais o que nutrir.
E por incrível que pareça,com o passar dos dias as doses
diárias de todo esse desapego,passa a fazer efeito.E sentido.
Não.Não acho que precisamos ser intensos todo o tempo.Não
precisamos ser interessantes,idealistas,espiritualizados e dedicados ao bem
comum o tempo todo.Há tempos que devemos parar de tentar ser qualquer coisa,
achar qualquer coisa, para enfim não ser absolutamente nada.
Eu escutei em algum lugar que devemos nos reduzir a cinzas
para enfim nos tornarmos alguém novamente. Anestesiar-se por um tempo não é se
esconder,não é se afugentar (ou que seja).É simplesmente parar de ser.
E então ,após tempos buscando por nada, economizando
nada,amadurecendo nada, heis que surge a estranha necessidade de” se dar alta”.
Anestesiar-se cansa. Sente-se uma vontade enorme de ocupar
um espaço,de fazer uma diferença,de compartilhar a vida com alguém, de trocar
experiências, de encher a cabeça de idéias novas,de crescer intelectualmente,de
se espiritualizar,se humanizar e chorar...chorar..chorar.
Quando finalmente nos damos alta,após uma fase em inércia,
voltamos a realidade massacrante dos seres evoluídos.Não basta deixar a vida
levar, tem que se levar a vida,mesmo que a mesma venha com acréscimos diários
de dívidas,dúvidas e envolvidos.É isso.Chega o tempo de nos envolvermos com o “resto”novamente.
E não há de quê.
Sugestões serão sempre questionáveis.Não que eu ache que
minhas opiniões estão livres de readaptações mil,de questionamentos mil – só tento
exprimir o que funciona pra mim. Certo ou errado,absurdo ou prático, regredir e
aprimorar na minha vida é como um ciclo sem fim.
E tem funcionado.
Use,se quiser (e se precisar).
3 comentários:
Tomar doses de anestesia geral. Me lembrou Ramones "I wanna be sedated"!
Estou chorando! Você sabe como ninguém expressar de forma concisa, verdadeira, direta e indiretamente e nos tocar de forma profunda, de nos fazer refletir, você nasceu com este dom maravilhoso que é o de escrever muito, mas muito bem.
Obrigada por este texto maravilhoso!
essas "Fernandas" nos inspiram e emocionam...
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