sexta-feira, 11 de julho de 2014

Garota de carnaval

Numa segunda-feira – vale ressaltar que não era uma segunda qualquer , porque era carnaval – nasceu uma garota.
Nascer, em dia de festa, talvez já justificaria os anos que viriam, pois a medida que a garota crescia, se mostrava distinta, extrovertida,impulsiva – típica nativa de segundas-feiras de carnaval.
Tivera sorte na vida.
Em festa veio ao mundo, e por aqui permaneceu, cercada por grandes exemplos, infinitos amores.
Não  lhe faltava motivos pra não se tornar a garota que deu certo.
E foi de forma bem estruturada , e foi de vida bem linear a vida que se formou.
Da boa escola, pra faculdade, pro trabalho, pros amores.
Cultivou hábitos saudáveis, enchendo sua cabeceira de livros e os devorando todos, com ansiedade.
E nunca lhe faltava outros prazeres, não tão saudáveis, mas que a fizeram conhecer outros grandes exemplos e obter infinitas inspirações.
Faltou limite e por isso vez ou outra faltava grana, mas ainda assim sempre havia lugar e gente pra acolher, apoiar.
Questionar a vida soava como blasfêmia.
O quê haveria de faltar a essa garota?
De qualquer forma, e ainda assim, blasfemava. Questionava os rumos que tomou e os que deixou escapar, todos os dias, desde o momento em que descobriu que poderia pensar por si mesma.
-Talvez por culpa dos livros na cabeceira, ou quem sabe a vida tão linear que levou-
 Os dois lados tão distintos de uma mesma moeda. O que é muito, ainda assim nunca é suficiente.
Nascera no carnaval, e os cinco dias nunca lhe bastavam. O nascimento era por si só tão glorioso, que teimou em festeja-lo todos os outros dias , onde todo carnaval nunca teve seu fim.
Sempre sentia que sua vida estava a  beira da mediocridade, e por vezes vivia ao avesso – só pra garantir outras perspectivas.
Insistia, internamente, em se tornar algo maior do que fora previsto. Viver além do que viveu nos últimos (todos) anos de sua preciosa vida.
Olhava insistentemente para o relógio – tinha a impressão que ainda lhe faltava um bom tempo.
E surgia o espelho, para desmascará-lo. E ainda assim, ainda teimava.
Sentia que só precisava de uma única resposta para alcançar a plenitude. Precisava saber o que a fazia diferente de todas as outras pessoas. Precisava de uma razão.
Questionamento que martelava e tomava todo e qualquer tempo, enquanto o espelho  parecia dissolver todas as horas que restavam.
E ainda  assim a vida correu, escorreu , sem voz que respondesse , que aliviasse.
E continuou a viver conforme o previsto, avessos que com o tempo se exauriram com o cansaço, pequenos e belos prazeres – vez ou outra.
De qualquer forma, nunca se esquecera de que ainda assim era uma garota de segunda feira de carnaval, e isso bastava para que prosseguisse, ininterruptamente vivendo.
E o relógio se cansou. Entrou num acordo com o espelho.
Queria e de certa forma alcançou alguma conquista. Nasceu e partiu em segunda de festa, sem nunca ter se esgotado nas quartas- feiras cinzentas.

E a vida não lhe pareceu medíocre ao cerrar os olhos, e a paz se fez presente sem  presenteá-la com qualquer resposta, afinal.

Um comentário:

Thiago disse...

Estou apaixonado por esta garota!!